Internamento em Paris (3)

Desafios


A viagem até Paris correu sem grandes sobressaltos porque não comi e bebi só um pouco de café e um pedaço pequeno de chocolate. Tinha imensa dor de cabeça e um grande desconforto abdominal. Chegamos em Paris, já em casa do meu tio jantamos e localizamos os contatos da agência para alterar a viagem no próximo dia. Depois do jantar voltou a acontecer o mesmo cenário de Londres e cheguei a pensar que ia sangrar até morrer porque não concebia de onde poderia sair tanto sangue dos meus intestinos. Assustada pedi ao meu tio para me levar para as urgências porque já não aguentava e tinha medo de me esvair em sangue e morrer com uma hemorragia.


Fomos ao hospital no qual tiraram-me sangue para análises e deixaram-me em observação até chegar os resultados. No meio disso levanto-me e vou ao encontro da minha família e da minha amiga. O corpo estava tão fraco que desmaiei, acordei com uma enfermeira a gritar comigo em francês e eu mal conseguia articular que precisava de uma casa de banho…urgente!!! Quando nos entendemos (até hoje não me lembro como) entrei numa casa de banho onde vomitei e caguei (desculpem a expressão mas foi mesmo isso) tudo o que havia no meu sistema. Lembro-me de ter ido ao chão da casa de banho porque o toque frio do chão despertou-me. Não conseguia gritar, nem pedir ajuda, estava sem forças. Deixei-me ficar no chão até reunir forças para me levantar, agarrar as paredes e caminhar até a cama onde tinha estado anteriormente. Ainda não sei como consegui sair daquele chão, mas lembro-me de ter pensado e ter concluído que tinha tido uma boa vida e que se morresse nesse dia, morreria feliz.


O frio do ar condicionado do hospital ajudou-me a recuperar um pouco a energia perdida se bem que a dor de cabeça era infernal. Mal conseguia pensar. O meu tio veio ter comigo a informar-me que o hospital tinha decidido deixar-me internada em observação, apareceu a agulha e o frasco de soro, apeteceu-me chorar (não me recordo se chorei ou não) mas queria fazer-me de forte para não preocupar as pessoas. Entreguei-me aos cuidados médicos pois nada mais conseguia fazer.


Foram 3 dias de internamento em Paris, sem nenhum diagnóstico porque quando se vive em África as análises são infinitas desde HIV, malárias e todo o género de contaminações. Pelo menos fiquei a saber que não tinha nada de contagioso. Chegou finalmente o dia do regresso a Lisboa e eu queria regressar. Meu tio e meus primos insistiam que ficasse em Paris mas eu queria estar num lugar onde pelo menos conseguisse entender tudo o que me dissessem. Os médicos do hospital de Paris aconselharam-me a não viajar, estava fraca e muito anémica. Nesta altura pesava 44 quilos e nem as minhas roupas serviam bem. Foi uma luta com o hospital, mas lá me deixaram sair depois de ter assinado o termo de responsabilidade e de me terem dado uma panóplia de documentos e exames para levar comigo até a próxima médica.

Ao menos de quase todas as janelas do hospital, inclusive do quarto onde fiquei, havia vista para a Torre Eiffel, portanto, do ponto de vista turístico nem tudo foi perdido.

Imagem| Fundo vetor criado por starline – br.freepik.com

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