A medicação, a retoma, os velhos e novos processos

Desafios

Acordei cedo, saí de casa ainda com o friozinho cortante da madrugada, apanhei a linha 735 da carris e desci da graça rumo ao hospital Egas Moniz. Tive a sorte de conseguir apanhar o elétrico até ao hospital e parecia quase que uma viagem turística que poderia terminar em Belém, acompanhado de um pastel de nata com canela e café.


Cheguei a porta do hospital, fiz exatamente o mesmo caminho até a farmácia. Tirando as obras que decorriam na ala de infeciologia e a triagem obrigatória devido à covid19 poder-se-ia dizer que fazia uma viagem ao passado.


A farmácia continua exatamente no mesmo sítio e, quase que posso dizer que com as mesmas pessoas. Levantei a medicação, agora de nome e embalagem diferentes. Estranhei, mas depois de quase cinco anos sem medicação as diferenças são normais.


Segui para o hospital de dia e fui encontrar-me com a enfermeira que tem, no nome, uma analogia com nome do bairro onde estava hospedada. Sorri ao dar-me conta desta coincidência e fiquei muito feliz ao ver que era a mesma enfermeira que me tinha guiado, há mais de 10 anos, na minha primeira viagem com a medicação, numa altura que andava tão perdida e não me recordava do nome, mas a pessoa, a simpatia e doçura vieram logo a memória e com isso uma sensação de paz.


Enquanto esperava, o candeeiro de sal dos himalaias que está na receção do hospital de dia desde a primeira vez que aí estive, refletia a paz que sentia. Não sei de quem foi a ideia, mas este toque energético é um bálsamo a alma de que vem, muitas vezes desamparado e aturdido, com tanta novidade, as vezes muita dor e outras com muitos receios. Chega-se aí e saí alguém por detrás desta luz laranja e diz-nos: Bom dia, em que posso ajudar. E, neste preciso momento, com todo esse cenário, já ajudou a alma, os anseios e os medos a acalmar. Foi uma agradável surpresa, 10 anos depois voltar a encontrar o mesmo cenário.


Quanto à medicação a enfermeira explicou-me que não ia fazer a mesma injeção que fazia antes mas sim outra com o mesmo principio ativo, o adalimumab e que isso acontecia porque esta medicação nova é um genérico e tem um custo mais barato. Dito isto, seguimos para as apresentações porque esta amiguinha precisa de ser apresentada para percebermos como é que funciona. E esta disco party para começar tem que valer a pena e são logo quatro shots (injeções) de uma só vez, uma para a enfermeira e três para mim porque queria aprender a fazer de uma vez para não ter que voltar ao hospital.


Auchhhhhh… bem esta amiguinha aqui não é nada boazinha, tem uma agulha maior e mais líquido, além da caneta ser um pouco mais complexa que a outra. De auchhhh em auchhhh lá conduzi a medicação até ao fim, firme e forte mas confesso que com dores e no fim ainda fiquei com uma valente dor abdominal que durou até ao outro dia. Estava a estranhar tanta dor, até porque sou uma repetente na matéria. A enfermeira explicou-me que esta nova caneta, a Idácio, contrariamente ao Humira (que fazia anteriormente) está a dar este efeito da dor que reportei e acabei sendo contactada para um inquérito relativo ao mesmo. Passado já um pouco mais de um mês os efeitos permanecem mas mais suaves. Entretanto, já estou apenas com uma caneta de quinze em quinze dias, logo a festa é menor.


De volta aos velhos processos de pedir a medicação em lisboa, arranjar um portador em mãos, já que a mesma não pode viajar sem refrigeração e em bagagem de porão, que mo traga até Cabo Verde. Vantagem covid é que o levantamento na farmácia pode ser de dois em dois meses e não um como era anteriormente e o processo de dispensa de medicação para quem está em viagem é mais célere.


E, assim, volto a introduzir a medicação na minha rotina de vida. Um pouco mais dolorosa mas continua sem pesar nem a alma, nem a vida.