Muffin de banana e trigo sarraceno (Sem glúten e sem açúcar)

Na Cozinha

Na receita de pão sem glúten falo dos benefícios do trigo sarraceno – ver aqui. Esta receita fica ótima com esta farinha.

Ingredientes:
300 g de banana (cerca de 4 bananas)
100g de maçã (1 maçã média)
100 ml de óleo de coco ou outro a sua escolha
150 g de farinha de trigo sarraceno
1 ovo
60 ml de leite vegetal
1 colher de chá de sumo de limão
Uva passa ou pepitas de chocolate a gosto
1 pitada de sal
Umas gotinhas de baunilha – opcional
2 colheres de chá de fermento sem glúten (mais ou menos 10g)

Preparação
Colocar num liquidificador ou processador a fruta e o ovo e triturar alguns segundos.
Juntar o óleo, a farinha, o leite, o sumo de limão, a farinha, a baunilha e o fermento e triturar mais alguns segundos.
Juntar o uva passa e ou pepitas de chocolate a mão e distribuir por 12 forminhas de muffins com papel ou untadas.
Assar num forno pré-aquecido a 180º durante 20 a 25 min e deixar esfriar na forma durante 10 minutos antes de desenformar.

Tempo de preparação: 35 min
Dificuldade: Fácil
Porções: 12 muffins

Ser feliz no nosso mundo

Mente Sã

Quando descobri a doença de Crohn tinha regressado a Cabo Verde havia dois anos. Este regresso ao berço tinha um sabor agridoce. Estava no meu país, mas longe do meu ninho São Vicente, quase tão equidistante da europa devido aos preços elevados dos bilhetes de viagem o que não permitia escapes com frequência. Não deixava de ser boa esta proximidade e eu passava as festividades importantes em São Vicente e, apesar de ter família próxima e amada na cidade da Praia, não havia em mim a sensação de lar.


Passear pela cidade da Praia nos dias de hoje é observar uma evolução galopante nos últimos 10 anos (antes disso não posso falar porque só a visitava nas férias). Esta transformação passa pela melhor organização dos arruamentos, pelo embelezamento de alguma áreas da cidade, pela oferta de produtos e diversidade do comércio, inclusive na simplicidade de um café. A cidade evoluiu, ficou mais bonita, infelizmente não mais segura apesar de alguns esforços de melhoria da eletricidade nas vias públicas mas isso já seria outro texto.


Quando cheguei lembro-me da alegria da minha tia ao levar-me ao supermercado do grupo Calú & Ângela na Achadinha onde, segundo ela, podia encontrar de tudo. Perante os meus olhos cheios dos supermercados europeus a minha deceção face a expectativa foi instantânea. E, nem vale a pena falar dos preços.


A Electra era outra dor de cabeça com os cortes de eletricidade quase todos os dias, e a falta de água cíclica. Havia dias que só queria um batido de frutas mas até esse desejo simples era impossível de concretizar.


O mercado da Praia era outra dor de cabeça. Era mais pequeno do que é hoje, menos higiênico, desorganizado e nada apelativo mas com legumes frescos o que o tornava numa necessidade, e lá ia eu ansiosa por beringelas, uma alface estaladiça e rúcula que eram quase impossíveis de encontrar nessa altura mas regressava feliz com a papaia, as mangas e a mandioca fresquinha. A relação com o mercado da Praia, nessa altura, era de amor e ódio.


Os motivos indicados acima, junto com o calor húmido, os mosquitos, as moscas, a lentidão dos serviços, os taxistas, a oferta limitada na área da saúde, entre outros, faziam com que eu tivesse motivos para reclamar todos os dias e muitas vezes no mesmo dia.


Relembrando este tempo posso dizer que depois de 7 anos a viver fora do meu país, estava a sofrer um choque de realidade. Mas nem tudo era mau havia a praia, o sol o ano inteiro, as frutas tropicais, a família e os amigos. Não era infeliz, até porque passava a vida em viagens, mas a constante contestação a tudo era esgotante física e emocionalmente.


Não posso afirmar que toda esta conjuntura favoreceu o despoletar da doença, mas sendo o Crohn uma doença que está ligado a forma como experienciamos as emoções, tenho a certeza que a forma como eu experienciava a vida na altura não ajudou. A contar com as inúmeras refeições que fazia fora de casa temos um cenário favorável para que tudo evoluísse de forma rápida.

Lembro-me de ter acordado um dia sem luz e cheia de calor devido ao ar condicionado que tinha deixado de funcionar.

Vivia no Palmarejo, numa destas casas com a janela do quarto para o saguão o que fazia qualquer noite sem ar condicionado um inferno de calor ou de barrulho. Ainda lembro-me da vontade furiosa de praguejar que me invadiu, contra a Electra, contra o calor, contra os meus vizinhos… este arrebatar de raiva fez-me parar por um segundo e o meu cérebro enviou-me a seguinte mensagem: se não consegues combater nem vale a pena reclamar, é esforço inútil. Nesse preciso momento, parei… parei tudo e parei de reclamar. Era muito cedo, tenho o hábito de madrugar assim que fui tomar um banho frio e, como era sábado, fiquei a espera que a minha amiga acordasse para aliciá-la a ir a praia de quebra-canela. E foi assim, que deixei de reclamar, quase de um dia para o outro, das circunstâncias da vida na cidade da Praia.


As coisas não ficaram melhores de um dia para o outro, obviamente, mas a mudança de perspetiva ajudou a que parecessem melhores. Ir a praia quase todos os fins-de-semana foi tornando uma regra, mudar do Palmarejo para a Achada de Santo António onde tinha o escritório diminuiu o meu contato com os taxistas e sendo, na altura, um bairro com mais gente e comércio que o Palmarejo ajudou a passar mais tempo fora de casa e a conviver, correr todos os dias, fazer a carta de condução e comprar o meu próprio carro deu-me uma outra liberdade. Estas foram as coisas que mudei e que me ajudaram a mudar a perspetiva. Tudo o resto continuava absolutamente igual mas deixou de ser o meu foco e essa é a chave importante, ajustarmos e melhorarmos o que nós temos a nosso favor. Atenção, não disse acomodar, mas ajustar, usar, se preferirem, o que o nosso ambiente nos oferece para sermos mais felizes.


Tenho que confessar que sempre olhei para a cidade da Praia como uma madrasta, mas quando fiz 39 anos fiz uma celebração de vários dias. Não foi uma festa, mas pequenas celebrações com as pessoas que tinham feito parte do meu percurso nessa cidade e fiz uma retrospetiva dos últimos dez anos vividos nesta cidade. Cheguei na cidade da Praia com 28 anos, assim que os meus 29 foram o primeiro aniversário que fiz cá e, deve ser por isso, que os meus 39 tiveram tanto significado. Numa das minhas celebrações, ainda antes do dia do meu aniversário, fui almoçar num restaurante a beira-mar. Foi um longo almoço apenas com o meu companheiro onde não falamos de nada em especial mas havia uma luz maravilhosa sobre a cidade que ao embater na água e parecia algo mágico. Apareceu um rapaz que se sentou numas das rochas a tocar uma guitarra. Era tudo tão simples e ao mesmo tempo tão carregado de significado, um rapaz ao som das ondas e da melodia que tirava da sua guitarra, sozinho naquele cair de sol dourado. As coisas simples comovem-me e fiquei mesmo tocada pela capacidade que o ser humano tem de simplificar, facto que muitas vezes nos esquecemos.

Saímos e fomos dar uma volta na cidade. Era o dia 13 de janeiro, feriado nacional e dia da liberdade e da democracia e a bandeira no palácio da Presidência da República estava hasteada. Olhei para a cidade da Praia e agradeci profundamente a alegria, a felicidade e o amor que tinha colocado na minha vida nestes dez anos.

Pão de trigo sarraceno – Sem glúten

Na Cozinha

Descobri no trigo sarraceno um excelente aliado para de uma dieta sem glúten. Para além de servir para preparar pão, bolos e papas, o grão é excelente para incrementar saladas e sopas.


Apesar do nome trigo, estamos a falar de uma semente e não de um cereal como o trigo comum. Além de ser isento de glúten o trigo serraceno é conhecido por ser antioxidante, anti-inflamatório e anticancerígeno. O seu cultivo é concentrado na Ásia, Rússia e no leste Europeu porque gosta de climas frios e é pouco exigente em termos agrícolas e quase não precisa de pesticidas ou fertilizantes, mesmo não sendo agricultura biológica. A versatilidade deste grão é enorme, usado para a elaboração de massas no japão, pão, bolos e até cerveja sem glúten que é feita nalguns países asiáticos.


O trigo sarraceno contém um baixo índice glicémico o que faz dele uma boa opção para diabéticos, ajuda a regular o colesterol no sangue, contém vitaminas do complexo B e minerais, de onde se destacam o magnésio e o potássio, assim como ferro, fósforo, zinco, sódio e cálcio.


Este pseudocereal contém bioflavonoides com destaque para a rutina que atua como um antioxidante e potencia a ação antioxidante de outras vitaminas antioxidantes e é, por isso, um excelente aliado na prevenção do cancro, da aterosclerose, da hipertensão, das varizes e até das hemorroides. A rutina melhora a circulação do sangue e diminui a tensão arterial.
Este é o único pseudocereal de contém rutina e não é possível encontrá-lo nos cereais, mas sim na salsa e vegetais folhosos, no chá verde e nas frutas cítricas e vermelhas.


Agora que já conhecemos um pouco os benefícios do trigo sarraceno, vamos conhecer este pão, um dos melhores que já consegui produzir.


A receita chegou até mim através de uma queniana muito querida que também sofre com o consumo de glúten. A primeira vez que fiz ficou um pão massudo e com demasiadas sementes. Da minha experiência já notei que é muito difícil seguir uma receita de pão à risca para este ficar bem. Não tenho feito pesquisas sobre o tema mas acredito que os fatores clima, humidade, minerais da água e calor estejam na base destas alterações, quase sempre tenho que retirar ou acrescentar algum ingrediente para otimizar o resultado final.


Ingredientes
2 colheres de chá de fermento de pão sem glúten
2 colheres de sopa de água morna à 37º
1 colher de sopa de mel
250g de trigo sarraceno
1 colher de chá de sal
2 colheres de sopa de linhaça picados grosseiramente
1 colher de sopa bem cheia de psyllium husk em pó
1 colher de sopa de sementes de sésamo
Sementes de girassol e abóbora à gosto
1 ovo
300 ml de água com gás


Preparação
Dissolver o fermento na água morna com o mel e deixar descansar 10 min até formar bolhas na superfície.
Misturar a farinha de trigo sarraceno, o sal, as sementes de girassol, abóbora, linhaça, o psyllium e as sementes de sésamo.
Adicionar o ovo, o fermento e a água nos ingredientes secos e mexer com uma colher de pau.
Forrar com papel vegetal uma forma retangular e colocar a mistura. Deixar levedar por 30 min num local morno ou até aumente de volume.

Decorar com algumas semente de girassol e abóbora e levar ao forno pré-aquecido a 180º durante 40 min. Pode-se usar a técnica do palito para certificar a cozedura. Depois de cozido deixar arrefecer mais ou menos 15 min na forma antes de cortar.


Este pão conserva-se muito bem no frigorífico até por mais de uma semana e pode ser congelado também. Para consumir basta retirar do frio e colocar numa torradeira para voltar a sentir o cheirinho delicioso.


Dá para consumir com manteiga, azeite (particularmente gosto assim), com queijo de cabra, com doces e com patês. Até dá para acompanhar com ovos mexidos.

Porque falo da doença de Crohn? (1)

Desafios

Começar esta apresentação é extremamente difícil, sendo jornalista de formação, gosto de escrever sobre os outros e não sobre mim. Este é o meu primeiro desafio com este blog, apresentar a doença de Crohn através da minha história.

Conheci a expressão doença de Crohn há 10 anos, quando através de pesquisas feitas na internet reparei que os sintomas que tinha estavam todos descritos numa estranha expressão que lia pela primeira vez…doença de Crohn. Obviamente, a minha primeira reação foi negar, não é possível! Isto é só um desequilíbrio emocional e daqui a pouco passa.

O meu desequilíbrio emocional começou quando recebi a notícia de um mau diagnóstico, que indicava que meu pai sofria com um cancro intestinal em fase terminal. Além do diagnóstico ele andava com uma aparência muito má. Foi muito difícil vê-lo assim e a minha teimosia não queria aceitar este desígnio. Tratei de tudo e, mesmo contra indicações médicas, coloquei-lhe num avião para Portugal para uma segunda opinião médica. Dias depois o meu pai tinha um diagnóstico completamente diferente que apontava para colite ulcerosa (mais um desconhecido que me foi apresentado) e meses depois já tinha recuperado a aparência e, principalmente, a vida.

Do meu lado o estrago estava feito, o efeito do meu desequilíbrio emocional não passava e desloquei-me a para a ilha de São Vicente para consultas e exames (já que na cidade da Praia não havia na altura a especialidade de gastroenterologia). Mais uma vez um diagnóstico enviesado que apontava para o mesmo diagnóstico do meu pai. Fui medicada, sem melhorias.

Contactei uma amiga em Portugal que também é gastroenterologista para lhe explicar a minha situação e ela calmamente pediu-me para não entrar em stress e que começasse pelo mais básico, uma desparasitação para ver se não havia nenhum parasita a castigar o meu intestino e que fosse ter com ela quando fosse para Portugal.

Confesso que segui a minha vida normal, na altura corria 7 km quase todos os dias o que mantive o mesmo ritmo porque, na não-aceitação do problema, acreditava que o corpo tinha que trabalhar para se recuperar sozinho. E, nesta falta de conhecimento real sobre o que se passava, marquei as minhas férias e fui passear pela europa antes de ir ao médico. A fase de negação é uma fase bastante real e não importa a capacidade intelectual de cada um, ninguém quer ter uma doença associada a sua vida.

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