Pão de trigo sarraceno – Sem glúten

Na Cozinha

Descobri no trigo sarraceno um excelente aliado para de uma dieta sem glúten. Para além de servir para preparar pão, bolos e papas, o grão é excelente para incrementar saladas e sopas.


Apesar do nome trigo, estamos a falar de uma semente e não de um cereal como o trigo comum. Além de ser isento de glúten o trigo serraceno é conhecido por ser antioxidante, anti-inflamatório e anticancerígeno. O seu cultivo é concentrado na Ásia, Rússia e no leste Europeu porque gosta de climas frios e é pouco exigente em termos agrícolas e quase não precisa de pesticidas ou fertilizantes, mesmo não sendo agricultura biológica. A versatilidade deste grão é enorme, usado para a elaboração de massas no japão, pão, bolos e até cerveja sem glúten que é feita nalguns países asiáticos.


O trigo sarraceno contém um baixo índice glicémico o que faz dele uma boa opção para diabéticos, ajuda a regular o colesterol no sangue, contém vitaminas do complexo B e minerais, de onde se destacam o magnésio e o potássio, assim como ferro, fósforo, zinco, sódio e cálcio.


Este pseudocereal contém bioflavonoides com destaque para a rutina que atua como um antioxidante e potencia a ação antioxidante de outras vitaminas antioxidantes e é, por isso, um excelente aliado na prevenção do cancro, da aterosclerose, da hipertensão, das varizes e até das hemorroides. A rutina melhora a circulação do sangue e diminui a tensão arterial.
Este é o único pseudocereal de contém rutina e não é possível encontrá-lo nos cereais, mas sim na salsa e vegetais folhosos, no chá verde e nas frutas cítricas e vermelhas.


Agora que já conhecemos um pouco os benefícios do trigo sarraceno, vamos conhecer este pão, um dos melhores que já consegui produzir.


A receita chegou até mim através de uma queniana muito querida que também sofre com o consumo de glúten. A primeira vez que fiz ficou um pão massudo e com demasiadas sementes. Da minha experiência já notei que é muito difícil seguir uma receita de pão à risca para este ficar bem. Não tenho feito pesquisas sobre o tema mas acredito que os fatores clima, humidade, minerais da água e calor estejam na base destas alterações, quase sempre tenho que retirar ou acrescentar algum ingrediente para otimizar o resultado final.


Ingredientes
2 colheres de chá de fermento de pão sem glúten
2 colheres de sopa de água morna à 37º
1 colher de sopa de mel
250g de trigo sarraceno
1 colher de chá de sal
2 colheres de sopa de linhaça picados grosseiramente
1 colher de sopa bem cheia de psyllium husk em pó
1 colher de sopa de sementes de sésamo
Sementes de girassol e abóbora à gosto
1 ovo
300 ml de água com gás


Preparação
Dissolver o fermento na água morna com o mel e deixar descansar 10 min até formar bolhas na superfície.
Misturar a farinha de trigo sarraceno, o sal, as sementes de girassol, abóbora, linhaça, o psyllium e as sementes de sésamo.
Adicionar o ovo, o fermento e a água nos ingredientes secos e mexer com uma colher de pau.
Forrar com papel vegetal uma forma retangular e colocar a mistura. Deixar levedar por 30 min num local morno ou até aumente de volume.

Decorar com algumas semente de girassol e abóbora e levar ao forno pré-aquecido a 180º durante 40 min. Pode-se usar a técnica do palito para certificar a cozedura. Depois de cozido deixar arrefecer mais ou menos 15 min na forma antes de cortar.


Este pão conserva-se muito bem no frigorífico até por mais de uma semana e pode ser congelado também. Para consumir basta retirar do frio e colocar numa torradeira para voltar a sentir o cheirinho delicioso.


Dá para consumir com manteiga, azeite (particularmente gosto assim), com queijo de cabra, com doces e com patês. Até dá para acompanhar com ovos mexidos.

Porque falo da doença de Crohn? (1)

Desafios

Começar esta apresentação é extremamente difícil, sendo jornalista de formação, gosto de escrever sobre os outros e não sobre mim. Este é o meu primeiro desafio com este blog, apresentar a doença de Crohn através da minha história.

Conheci a expressão doença de Crohn há 10 anos, quando através de pesquisas feitas na internet reparei que os sintomas que tinha estavam todos descritos numa estranha expressão que lia pela primeira vez…doença de Crohn. Obviamente, a minha primeira reação foi negar, não é possível! Isto é só um desequilíbrio emocional e daqui a pouco passa.

O meu desequilíbrio emocional começou quando recebi a notícia de um mau diagnóstico, que indicava que meu pai sofria com um cancro intestinal em fase terminal. Além do diagnóstico ele andava com uma aparência muito má. Foi muito difícil vê-lo assim e a minha teimosia não queria aceitar este desígnio. Tratei de tudo e, mesmo contra indicações médicas, coloquei-lhe num avião para Portugal para uma segunda opinião médica. Dias depois o meu pai tinha um diagnóstico completamente diferente que apontava para colite ulcerosa (mais um desconhecido que me foi apresentado) e meses depois já tinha recuperado a aparência e, principalmente, a vida.

Do meu lado o estrago estava feito, o efeito do meu desequilíbrio emocional não passava e desloquei-me a para a ilha de São Vicente para consultas e exames (já que na cidade da Praia não havia na altura a especialidade de gastroenterologia). Mais uma vez um diagnóstico enviesado que apontava para o mesmo diagnóstico do meu pai. Fui medicada, sem melhorias.

Contactei uma amiga em Portugal que também é gastroenterologista para lhe explicar a minha situação e ela calmamente pediu-me para não entrar em stress e que começasse pelo mais básico, uma desparasitação para ver se não havia nenhum parasita a castigar o meu intestino e que fosse ter com ela quando fosse para Portugal.

Confesso que segui a minha vida normal, na altura corria 7 km quase todos os dias o que mantive o mesmo ritmo porque, na não-aceitação do problema, acreditava que o corpo tinha que trabalhar para se recuperar sozinho. E, nesta falta de conhecimento real sobre o que se passava, marquei as minhas férias e fui passear pela europa antes de ir ao médico. A fase de negação é uma fase bastante real e não importa a capacidade intelectual de cada um, ninguém quer ter uma doença associada a sua vida.

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