A medicação, a retoma, os velhos e novos processos

Desafios

Acordei cedo, saí de casa ainda com o friozinho cortante da madrugada, apanhei a linha 735 da carris e desci da graça rumo ao hospital Egas Moniz. Tive a sorte de conseguir apanhar o elétrico até ao hospital e parecia quase que uma viagem turística que poderia terminar em Belém, acompanhado de um pastel de nata com canela e café.


Cheguei a porta do hospital, fiz exatamente o mesmo caminho até a farmácia. Tirando as obras que decorriam na ala de infeciologia e a triagem obrigatória devido à covid19 poder-se-ia dizer que fazia uma viagem ao passado.


A farmácia continua exatamente no mesmo sítio e, quase que posso dizer que com as mesmas pessoas. Levantei a medicação, agora de nome e embalagem diferentes. Estranhei, mas depois de quase cinco anos sem medicação as diferenças são normais.


Segui para o hospital de dia e fui encontrar-me com a enfermeira que tem, no nome, uma analogia com nome do bairro onde estava hospedada. Sorri ao dar-me conta desta coincidência e fiquei muito feliz ao ver que era a mesma enfermeira que me tinha guiado, há mais de 10 anos, na minha primeira viagem com a medicação, numa altura que andava tão perdida e não me recordava do nome, mas a pessoa, a simpatia e doçura vieram logo a memória e com isso uma sensação de paz.


Enquanto esperava, o candeeiro de sal dos himalaias que está na receção do hospital de dia desde a primeira vez que aí estive, refletia a paz que sentia. Não sei de quem foi a ideia, mas este toque energético é um bálsamo a alma de que vem, muitas vezes desamparado e aturdido, com tanta novidade, as vezes muita dor e outras com muitos receios. Chega-se aí e saí alguém por detrás desta luz laranja e diz-nos: Bom dia, em que posso ajudar. E, neste preciso momento, com todo esse cenário, já ajudou a alma, os anseios e os medos a acalmar. Foi uma agradável surpresa, 10 anos depois voltar a encontrar o mesmo cenário.


Quanto à medicação a enfermeira explicou-me que não ia fazer a mesma injeção que fazia antes mas sim outra com o mesmo principio ativo, o adalimumab e que isso acontecia porque esta medicação nova é um genérico e tem um custo mais barato. Dito isto, seguimos para as apresentações porque esta amiguinha precisa de ser apresentada para percebermos como é que funciona. E esta disco party para começar tem que valer a pena e são logo quatro shots (injeções) de uma só vez, uma para a enfermeira e três para mim porque queria aprender a fazer de uma vez para não ter que voltar ao hospital.


Auchhhhhh… bem esta amiguinha aqui não é nada boazinha, tem uma agulha maior e mais líquido, além da caneta ser um pouco mais complexa que a outra. De auchhhh em auchhhh lá conduzi a medicação até ao fim, firme e forte mas confesso que com dores e no fim ainda fiquei com uma valente dor abdominal que durou até ao outro dia. Estava a estranhar tanta dor, até porque sou uma repetente na matéria. A enfermeira explicou-me que esta nova caneta, a Idácio, contrariamente ao Humira (que fazia anteriormente) está a dar este efeito da dor que reportei e acabei sendo contactada para um inquérito relativo ao mesmo. Passado já um pouco mais de um mês os efeitos permanecem mas mais suaves. Entretanto, já estou apenas com uma caneta de quinze em quinze dias, logo a festa é menor.


De volta aos velhos processos de pedir a medicação em lisboa, arranjar um portador em mãos, já que a mesma não pode viajar sem refrigeração e em bagagem de porão, que mo traga até Cabo Verde. Vantagem covid é que o levantamento na farmácia pode ser de dois em dois meses e não um como era anteriormente e o processo de dispensa de medicação para quem está em viagem é mais célere.


E, assim, volto a introduzir a medicação na minha rotina de vida. Um pouco mais dolorosa mas continua sem pesar nem a alma, nem a vida.

O super coco

Na Cozinha

O coco é das frutas que quando estamos na praia do Tarrafal e as senhoras nos apresentam um coco fresquinho quase nunca conseguimos dizer que não. Abrem uma suposta cabeça, metemos a palhinha e lançamos de boca mesmo sem conhecer o interior porque nunca duvidamos que vai ser bom.

A água de coco parece mesmo uma magia da natureza, algo que sugamos do fundo da terra em forma de bola e nos refresca o corpo e alimenta a alma numa sintonia perfeita com a natureza.

Quando estive grávida tive asias durante os três primeiros meses e a única bebida que conseguia acalmar essa revolução interna era água de coco e a carne do mesmo, por isso, comia sempre e chegava a comprar sacos enormes cheios de coco que nem conseguia carregar. Chegaram a perguntar se eu ia parir um coco.

Cheguei a temer que essa comilança de coco me pudesse provocar distúrbios intestinais, mas nunca aconteceu. A verdade é que a sintonia que sentia ao beber o coco era maravilhosa, encaixava no meu corpo e deixava-me aliviada e feliz.

Sempre fui fã de tudo o que é feito com coco e utilizo todos os derivados desta fruta maravilhosa e quanto mais pesquiso sobre este alimento mais me sinto alinhada com o mesmo.

Falando mais das suas propriedades e benefícios o que já se sabe é que o coco é um isotónico e um hidratante natural. O coco consumido no seu todo presenteia-nos com potássio, vitaminas C e do complexo B, magnésio, cálcio, fósforo, ferro, proteínas, fibras e gorduras.  

O coco além de ajudar a melhorar o trânsito intestinal ajuda também a fortalecer o sistema imunitário e por conter ácido láurico (principalmente o óleo) ajuda a eliminar bactérias, vírus e fungos nocivos sem afetar a microbiota intestinal.

Um dos sintomas do Doença de Crohn é o cansaço e o coco por conter magnésio e potássio ajuda a combater o cansaço e a fadiga atuando como um relaxante muscular.

Além da água, da polpa ou do leite de coco, o coco ainda nos fornece o açúcar de coco (com baixo índice glicémico) que, por curiosidade, vem da seiva da flor e não do fruto, e o óleo de coco. O óleo de coco é cada vez mais apreciado sendo que nem todas as evidências científicas estão comprovadas, mas como tudo na vida há que ter equilíbrio e moderação já que há uma panóplia de bons alimentos que devemos incluir na nossa dieta e aumentar a sua diversidade.

A gordura do óleo de coco já foi considerada pouco saudável mas evidências científicas têm quebrado alguns mitos em relação ao mesmo. Composto por 90% de ácidos graxos indicam que estas gorduras são inofensivas e metabolizados de forma diferente pelo organismo. Inclusivamente foram realizados estudos em populações que têm como base da alimentação o coco e o seu óleo: os Tokelauans e os Kitavans, ambos no oceano pacífico, em que praticamente não encontraram evidências de doenças cardíacas nestas populações e, inclusivamente, é indicado para queima de gordura e emagrecimento.

Há pesquisas indicam que o óleo de coco ajuda na prevenção de doenças autoimunes e é utilizado, inclusive, no tratamento em pacientes com HIV, impedindo a manifestação da doença. Na doença de Crohn por ser um anti-inflamatório natural ajuda melhorar o trato gastrointestinal e, já existem pesquisas, que apontam para o efeito calmante que pode ter na inflamação do intestino.

O óleo de coco também é um aliado do cérebro e ajuda a melhorar as funções cognitivas e a memória. Curiosamente o óleo de coco é composto por ácido láurico (imunomodulador) e 14% da gordura do leite materno tem a mesma composição. Aliás os ácidos contidos no óleo de coco são recomendados nas dietas infantis, sendo por vezes, incorporadas em fórmulas infantis.

Existem indicações que também auxilia na perda da gordura abdominal e do peso. Se bem que não sou a favor do consumo de nenhum alimento olhando apenas para o controlo de peso. É importante alimentarmo-nos com base nos nutrientes e nos benefícios que os mesmos trazem para a nossa saúde, se ajudar a perder peso será um bónus.

Para os doentes de Crohn é regra é sempre a mesma, experimentar e verificar como se sente em relação ao alimento. Aqui só relato a minha experiência pessoal que tem sido muito positiva em relação ao consumo deste fruto. Consumo desde a fruta no seu estado natural, faço o meu próprio leite de coco, uso o óleo para fins culinários e o açúcar para adoçar alguns bolos.

Em Cabo Verde somos afortunados em termos este fruto no seu estado natural, por isso, a próxima vez de pegar num coco aprecia-o e agradeça por esta seiva maravilhosa que ele nos oferece.

Muffin de banana e trigo sarraceno (Sem glúten e sem açúcar)

Na Cozinha

Na receita de pão sem glúten falo dos benefícios do trigo sarraceno – ver aqui. Esta receita fica ótima com esta farinha.

Ingredientes:
300 g de banana (cerca de 4 bananas)
100g de maçã (1 maçã média)
100 ml de óleo de coco ou outro a sua escolha
150 g de farinha de trigo sarraceno
1 ovo
60 ml de leite vegetal
1 colher de chá de sumo de limão
Uva passa ou pepitas de chocolate a gosto
1 pitada de sal
Umas gotinhas de baunilha – opcional
2 colheres de chá de fermento sem glúten (mais ou menos 10g)

Preparação
Colocar num liquidificador ou processador a fruta e o ovo e triturar alguns segundos.
Juntar o óleo, a farinha, o leite, o sumo de limão, a farinha, a baunilha e o fermento e triturar mais alguns segundos.
Juntar o uva passa e ou pepitas de chocolate a mão e distribuir por 12 forminhas de muffins com papel ou untadas.
Assar num forno pré-aquecido a 180º durante 20 a 25 min e deixar esfriar na forma durante 10 minutos antes de desenformar.

Tempo de preparação: 35 min
Dificuldade: Fácil
Porções: 12 muffins

Vamos falar de sintomas?

Desafios

Criei este blogue com a intenção de manter as questões técnicas da Doença de Crohn o mais distante possível porque não sou médica e acredito que cada área deve estar assegurada a quem compete. “Então porque é que vamos falar de sintomas?” Pergunta pertinente que respondo a seguir.

Se já leram a história retratada no blogue já sabem que os meus primeiros sintomas foram violentos. Muito resumidamente tive um pouco de tudo: diarreia normal e com sangue, febre, perda de peso, anemia, fraqueza generalizada, cólicas e facilidade em apanhar viroses devido à baixa imunidade. Entretanto, apareceu a medicação que no meu caso resultou à primeira (já ouvi relatos de pessoas que não conseguiram), portanto, a minha estrelinha da sorte funcionou neste caso e em três meses estava quase como nova. O resto da minha vida já sabem, entre um e outro sintoma, mas nada muito profundo que tenha gerado internamento e outras consequências da DC que espero não vir a ter.

Há quase 5 anos, engravidei e choveu uma tempestade de dúvidas que depois foram dissolvendo e tive uma gravidez maravilhosa (irei escrever um post sobre a DC e a gravidez para falar mais sobre este tópico). Parei a medicação que fazia (um imunossupressor) no sexto mês de gravidez e nunca mais voltei. SIM!!! Nunca mais até a data de hoje e já estou há mais de quatro anos sem medicação nenhuma. O fim da gravidez correu bem sem medicação e o período de amamentação foi ainda melhor. Amamentei o meu filho até os 18 meses o que fez prolongar este efeito de boas graças entre a maternidade e a minha condição de DC.

Findo este período, fui fazer os exames e mais uma vez a coisa estava calma, havia alguma ulceração mas nada de grave e não havia razão para voltar a medicação. Estava muito feliz porque não teria que voltar a medicação mas tinha uma ressalva de voltar em seis meses para fazer uma cápsula endoscópica (basicamente, engolir uma câmara fotográfica que transforma o nosso aparelho digestivo um autêntico big brother tecnológico e é possível ver tudo porque nada lhe escapa).

Entretanto, veio a pandemia e o mundo parou. Como sou seguida em Portugal, infelizmente, em Cabo Verde não existem todos os recursos a que tenho acesso fora do país, portanto, a minha vida de doente, também, parou. O bom desta situação é que não tinha sintomas (uma diarreia aqui ou acolá mas nada de relevante ou uma pequena crise quando a boca não se autocontrola) e como os últimos exames tinham sido bons não estava muito preocupada.

Neste verão, já com a pandemia mais sob controlo voltei a Portugal para fazer os exames de rotina. Como tinha organizado tudo a partir de Cabo Verde consegui fazer tudo em três semanas (consultas, exames de sangue, fezes, urina, ressonância magnética e cápsula endoscópica), mas as respostas não consegui porque a pandemia atrasa tudo. Acordei com a médica fazer o acompanhamento por teleconsulta para poder regressar na data prevista e assim foi.

Semanas depois foi a teleconsulta e eis o resultado: Doença de Crohn em fase moderada e que terei que voltar à medicação. A minha pergunta foi: mas como, se eu não tenho sintomas da doença?

Ao que parece o Sr. Crohn é muito brincalhão e dá asas a sua criação sem nos avisar. Eu já tinha ouvido da manifestação da doença através da pele, mas assintomática confesso que não. Tirando alguma insónia (quem sofre dos intestinos sabe que o mau funcionamento do mesmo dá lugar a noites muito mal dormidas) não tenho sintomas de forma continuada. Até ganhei peso em vez de perder e nem anemia tive.

Isto veio realmente reforçar que quando temos alguma questão de saúde não devemos negligenciar os exames de rotina por melhor que estejamos. Porque o nosso corpo pode ficar em modo bomba-relógio que em algum momento explode e pode não ser uma granada mas sim uma grande bomba atómica ao qual é mais difícil recuperar dos estragos. Da única coisa que, realmente, tenho algum receio nesta vida de DC é da colectomia, ou seja, a retirada de parte do intestino em que muitas vezes a pessoa passa a usar um saco externo, por isso, gosto de manter as rotinas dos exames e ser, até onde posso, mais preventiva que reativa.

Tenho que confessar que odeio tomar medicamentos e muito facilmente esqueço-me ou salto as rotinas. Sou mesmo péssima e agora o protocolo para voltar a medicação é bem mais complexa do que fiz na primeira vez. Primeira coisa é que vivo no país que tem manifestação da tuberculose e para voltar ao imunossupressor tenho que fazer terapia para a tuberculose latente. Vem daí um comprimindo por dia, com vitamina B6 associada, mais outras cápsulas para ir mantendo o intestino estável até começar a medicação indicada pelo médico que só posso fazer depois de um mês da terapia da tuberculose concluída, mas que terei que dar seguimento por seis à nove meses. Prefiro nem pensar para a minha cabeça não dar um nó mas é necessário cumprir direitinho para evitar complicações maiores.

Também é importante colocar as vacinas em dia por causa da doença, porque a fazer medicação com imunossupressor não posso fazer vacinas que tem o vírus ativo, portanto; covid (ok); hepatite B (já foram 2 doses, falta uma); pneumo-qualquer coisa (ok desde 2019); pneumo-qualquer coisa 2 (não encontro em CV fica para quando for a PT); febre-amarela para poder deslocar para países africanos (ok); gripe (vou fazer ainda esta semana) … e ainda há gente a reclamar para fazer a vacina da Covid 19. Ofereço o meu braço se o problema for a picada.

Em dez anos de DC, como vêm, já passei por cenários interessantes, desde sintomas profundos a quase inexistência de sintomas o que vem reforçar que as doenças autoimunes são muito instáveis em relação à sua manifestação e, se tivermos histórico com uma doença autoimune o melhor é seguir um controle apertado para a mesma não fugir do controle dos médicos e a nossa vida não fugir ao nosso controlo. Respeito muito o meu corpo, a duras custas, mas já aprendi a respeitar a medicina e o trabalho médico que realmente salva vidas ou as melhora consideravelmente.

Foto| Infográfico vetor criado por brgfx – br.freepik.com

Hambúrguer de feijão-frade com beterraba (vegan e isento de glúten)

Na Cozinha

Quem não gosta ou não se lembra de uma saladinha de feijão-frade. Quem cresceu em Cabo Verde tem essa referência de sabor do feijão-frade. Eu, particularmente, adoro fazer nos dias quentes de verão. Mas, que tal explorar outras formas de consumir o feijão-frade.


Além de ser um alimento rico em fibras e minerais, o feijão-frade é rico em proteínas o que o faz dele uma excelente opção de refeição. Também é rico em ferro o que ajuda as pessoas com problemas de anemia e carência de ferro.


A beterraba junta a esta composição os antioxidantes e as suas propriedades anti-inflamatória. Ao contrário do que muitos pensam a quantidade de ferro existente na beterraba é muito pouca mas por oposição é rica em vitamina C o que ajuda na fixação do ferro existente no feijão. A beterraba ajuda, também, a fortalecer o sistema imunitário, na prevenção do câncer, no fortalecimento do sistema nervoso e a prevenir o envelhecimento precoce.


Para quem é iniciante em hambúrgueres vegetais o feijão-frade pode ser um excelente ponto de partida porque tem uma textura consistente e mais rija o que ajuda a chegar no ponto ideal de rigidez que se pretende. Portanto vamos colocar mãos para produzir este hambúrguer que além de nutritivo é uma delícia.

Ingredientes:
250 g de feijão frade cozido
60 g de beterraba pré-cozida para não ficar muito mole
60 g de quinoa demolhada
1 a 2 colheres de cominho (conforme o gosto)
Sal q.b
Pimenta à gosto
5 a 7 dentes de alho
1 colher de chá de colorau
1 colher de chá de Pimenta caiena (opcional)
Coentros ou salsa conforme o gosto
2 a 3 colheres de farinha de arroz ou mandioca

Para selar o hambúrguer
Molho de soja
Água
Mostarda
Farinha de pau (mandioca)

Preparação
Começa por refogar o alho com um pouco de azeite e juntar o colorau, o cominho e a pimenta caiena se usar. O calor vai ajudar a especiarias a libertar mais sabor.

Acrescentar a beterraba ao refogado e finalizar sem queimar o alho.
Juntar este refogado ao feijão-frade, acrescentar a pimenta e o sal e processar tudo junto até ficar homogéneo. Se tiver dificuldades em triturar tudo a primeira é só acrescentar um pouco de azeite que ajuda o processamento.


Na mesma frigideira que usei para fazer o refogado coloco a quinoa sem nenhum tipo de gordura e deixo pré-cozinhar por uns 5 minutos em fogo médio/alto. Depois acrescento à mistura processada.
Para ligar usei farinha de mandioca que tinha em casa. Atenção que não foi farinha de pau que costuma haver no supermercado mas farinha de mandioca fininha e branca. A farinha de pau usei para selar o hambúrguer.


Quando tiver a textura desejada é só moldar os hambúrgueres com a mão, refrigerar e usar conforme o gosto. Mas se quiser mais um passo pode selar da seguinte forma: juntar uma medida de molho de soja com a mesma medida de água (meio copo de cada é mais que suficiente), uma colher de chá de mostarda e passar os hambúrgueres nesta mistura e a seguir passar na farinha de pau e já está.


Costumo passar na frigideira antiaderente com um fio de azeite. Atenção que não é para fritar mas sim para ganhar uma ligeira corânica. Aconselho a fazerem metade sem selar e metade selado e decidirem qual é a versão que preferem.

Para acompanhar fiz quinoa e uma salada fresca com abacate e papaia.

Tempo de preparação: 1h
Dificuldade: Fácil
Porções: cerca de 12 unidades

Panquecas de banana e aveia

Na Cozinha

Sempre fiz panquecas mas desde que o meu filho nasceu tornaram-se uma tradição cá em casa e não há sábado em que não se comece o dia com panquecas e como e estas são as preferidas dele e os devora tal como saem da frigideira, sem nenhum tipo de adoçante.

Ingredientes
2 a 3 bananas
2 ovos
1 iogurte natural
1 chávena de aveia em flocos triturados (ou podem usar farinha de aveia)
Canela a gosto
1 colher de sopa de óleo de coco (opcional)
1 colher de chá de fermento


Preparação
Amassa as bananas com um garfo. Bater os ovos com garfo e juntar as bananas e a canela. Triture os flocos de aveia e juntar ao preparado e misturar. Colocar o iogurte e misturar. Por fim acrescente o fermento e o óleo de coco. Misturar tudo e caso seja necessário acrescente um bocadinho de água na massa porque a aveia tem tendência a absorver muito líquido.
Aqueça em lume médio/baixo uma frigideira antiaderente e passe um guardanapo embebido em óleo de coco ou qualquer outro óleo. Coloque uma colher de sopa da massa na frigideira e vai fazendo mini-panquecas ou “panquequinhas” como diz o meu sobrinho. Deixe assar por cerca de um a dois minutos e volte de lado. Deixe mais um a dois minutos e já está.
Sirva com rodelas de fruta e um fio de mel, maple sirup ou nutela caseira.

Tempo de preparação: 1h
Dificuldade: Fácil
Porções: cerca de 15 panquecas

Ser feliz no nosso mundo

Mente Sã

Quando descobri a doença de Crohn tinha regressado a Cabo Verde havia dois anos. Este regresso ao berço tinha um sabor agridoce. Estava no meu país, mas longe do meu ninho São Vicente, quase tão equidistante da europa devido aos preços elevados dos bilhetes de viagem o que não permitia escapes com frequência. Não deixava de ser boa esta proximidade e eu passava as festividades importantes em São Vicente e, apesar de ter família próxima e amada na cidade da Praia, não havia em mim a sensação de lar.


Passear pela cidade da Praia nos dias de hoje é observar uma evolução galopante nos últimos 10 anos (antes disso não posso falar porque só a visitava nas férias). Esta transformação passa pela melhor organização dos arruamentos, pelo embelezamento de alguma áreas da cidade, pela oferta de produtos e diversidade do comércio, inclusive na simplicidade de um café. A cidade evoluiu, ficou mais bonita, infelizmente não mais segura apesar de alguns esforços de melhoria da eletricidade nas vias públicas mas isso já seria outro texto.


Quando cheguei lembro-me da alegria da minha tia ao levar-me ao supermercado do grupo Calú & Ângela na Achadinha onde, segundo ela, podia encontrar de tudo. Perante os meus olhos cheios dos supermercados europeus a minha deceção face a expectativa foi instantânea. E, nem vale a pena falar dos preços.


A Electra era outra dor de cabeça com os cortes de eletricidade quase todos os dias, e a falta de água cíclica. Havia dias que só queria um batido de frutas mas até esse desejo simples era impossível de concretizar.


O mercado da Praia era outra dor de cabeça. Era mais pequeno do que é hoje, menos higiênico, desorganizado e nada apelativo mas com legumes frescos o que o tornava numa necessidade, e lá ia eu ansiosa por beringelas, uma alface estaladiça e rúcula que eram quase impossíveis de encontrar nessa altura mas regressava feliz com a papaia, as mangas e a mandioca fresquinha. A relação com o mercado da Praia, nessa altura, era de amor e ódio.


Os motivos indicados acima, junto com o calor húmido, os mosquitos, as moscas, a lentidão dos serviços, os taxistas, a oferta limitada na área da saúde, entre outros, faziam com que eu tivesse motivos para reclamar todos os dias e muitas vezes no mesmo dia.


Relembrando este tempo posso dizer que depois de 7 anos a viver fora do meu país, estava a sofrer um choque de realidade. Mas nem tudo era mau havia a praia, o sol o ano inteiro, as frutas tropicais, a família e os amigos. Não era infeliz, até porque passava a vida em viagens, mas a constante contestação a tudo era esgotante física e emocionalmente.


Não posso afirmar que toda esta conjuntura favoreceu o despoletar da doença, mas sendo o Crohn uma doença que está ligado a forma como experienciamos as emoções, tenho a certeza que a forma como eu experienciava a vida na altura não ajudou. A contar com as inúmeras refeições que fazia fora de casa temos um cenário favorável para que tudo evoluísse de forma rápida.

Lembro-me de ter acordado um dia sem luz e cheia de calor devido ao ar condicionado que tinha deixado de funcionar.

Vivia no Palmarejo, numa destas casas com a janela do quarto para o saguão o que fazia qualquer noite sem ar condicionado um inferno de calor ou de barrulho. Ainda lembro-me da vontade furiosa de praguejar que me invadiu, contra a Electra, contra o calor, contra os meus vizinhos… este arrebatar de raiva fez-me parar por um segundo e o meu cérebro enviou-me a seguinte mensagem: se não consegues combater nem vale a pena reclamar, é esforço inútil. Nesse preciso momento, parei… parei tudo e parei de reclamar. Era muito cedo, tenho o hábito de madrugar assim que fui tomar um banho frio e, como era sábado, fiquei a espera que a minha amiga acordasse para aliciá-la a ir a praia de quebra-canela. E foi assim, que deixei de reclamar, quase de um dia para o outro, das circunstâncias da vida na cidade da Praia.


As coisas não ficaram melhores de um dia para o outro, obviamente, mas a mudança de perspetiva ajudou a que parecessem melhores. Ir a praia quase todos os fins-de-semana foi tornando uma regra, mudar do Palmarejo para a Achada de Santo António onde tinha o escritório diminuiu o meu contato com os taxistas e sendo, na altura, um bairro com mais gente e comércio que o Palmarejo ajudou a passar mais tempo fora de casa e a conviver, correr todos os dias, fazer a carta de condução e comprar o meu próprio carro deu-me uma outra liberdade. Estas foram as coisas que mudei e que me ajudaram a mudar a perspetiva. Tudo o resto continuava absolutamente igual mas deixou de ser o meu foco e essa é a chave importante, ajustarmos e melhorarmos o que nós temos a nosso favor. Atenção, não disse acomodar, mas ajustar, usar, se preferirem, o que o nosso ambiente nos oferece para sermos mais felizes.


Tenho que confessar que sempre olhei para a cidade da Praia como uma madrasta, mas quando fiz 39 anos fiz uma celebração de vários dias. Não foi uma festa, mas pequenas celebrações com as pessoas que tinham feito parte do meu percurso nessa cidade e fiz uma retrospetiva dos últimos dez anos vividos nesta cidade. Cheguei na cidade da Praia com 28 anos, assim que os meus 29 foram o primeiro aniversário que fiz cá e, deve ser por isso, que os meus 39 tiveram tanto significado. Numa das minhas celebrações, ainda antes do dia do meu aniversário, fui almoçar num restaurante a beira-mar. Foi um longo almoço apenas com o meu companheiro onde não falamos de nada em especial mas havia uma luz maravilhosa sobre a cidade que ao embater na água e parecia algo mágico. Apareceu um rapaz que se sentou numas das rochas a tocar uma guitarra. Era tudo tão simples e ao mesmo tempo tão carregado de significado, um rapaz ao som das ondas e da melodia que tirava da sua guitarra, sozinho naquele cair de sol dourado. As coisas simples comovem-me e fiquei mesmo tocada pela capacidade que o ser humano tem de simplificar, facto que muitas vezes nos esquecemos.

Saímos e fomos dar uma volta na cidade. Era o dia 13 de janeiro, feriado nacional e dia da liberdade e da democracia e a bandeira no palácio da Presidência da República estava hasteada. Olhei para a cidade da Praia e agradeci profundamente a alegria, a felicidade e o amor que tinha colocado na minha vida nestes dez anos.

Bolo de banana e aveia

Na Cozinha

Provei este bolo pela primeira vez feita pela minha colega Aline Oliveira que é uma cozinheira de mão cheia e fiquei apaixonada. Pedi a receita e já a “ajustei” várias vezes conforme o gosto e o que tenho a mão e sai sempre bem. Esta é uma receita vencedora, já fiz sem fermento e deu certo, já fiz apenas com bicarbonato de sódio e deu certo. É uma receita rápida e prática para um pequeno-almoço ou lanche. Se bater as claras em castelo terá um bolo mais fofinho mas por norma opto por bater apenas com um garfo. Este bolo é ótimo, porque além dos benefícios da aveia não leva nenhum tipo de açúcar refinado, apenas fruta. Meu filho adora, só não gosta das passas por isso coloco poucas para as poder “catar”nas fatias dele.


Para mim a aveia resulta muito bem quer a nível dos intestinos como a nível da saciedade. Nunca tive problemas com o consumo de aveia mas como qualquer pessoa com Doença de Chron sabe, cada um tem que testar por si mas por norma a aveia é um ótimo regulador intestinal.


Ingredientes:
4 bananas
2 ovos
1 chávena de aveia em flocos ou farinha (para os intolerantes ao glúten por favor escolher farinha de aveia sem contaminação de glúten)
Canela q.b.
1 colher de chá de fermento sem glúten ou bicarbonato de sódio com umas gotinhas de limão
Uva passa a gosto
Raspa de limão (opcional)
1 colher de sopa de óleo de coco (opcional)
Pode-se acrescentar: 2 colheres de sopa de farinha de amêndoa, nozes em pedaços, maçã cortada em cubinhos pequeninos… o importante é criar com o que nós gostamos.


Preparação:
Amassar as bananas com um garfo, colocar os ovos (se quiserem podem bater as claras em castelo e juntar no fim mas não é essencial), juntar a aveia (pode ser em flocos mas prefiro sempre triturar e fazer uma farinha grosseira) e ir colocando todos os outros ingredientes e misturar bem. Se for necessário adicione um pouco mais de aveia.
De seguida untar uma forma com óleo de coco e farinha de aveia e coloco no fundo algumas rodelas de banana e encima mais umas rodelas. Levar ao forno pré-aquecido a 180º por cerca de 20 min. E, voilá, já está um bolo cheirosinho e super fácil.

Nota: Dá para acrescentar maçã ou nozes na massa antes de ir ao forno.


Tempo de preparação: 15 min

Dificuldade: Fácil

Porções: 4 pessoas