Croquetes de lentilhas com curcuma – Vegan

Na Cozinha

Provei croquetes de lentilhas pela primeira vez na Tambake. Tentei sentir todos os sabores envolvidos e fiz as minhas versões. Sim são versões porque nunca tive acesso à receita dos que comi e cada vez que faço acrescento alguma coisa e é uma ótima receita para aproveitar restos que estejam no frigorífico. Assim sendo já acrescentei quinoa, espinafres, salsa,… e ficam sempre bons. Deixo algumas quantidades para se orientarem mas esta receita não é métrica, ou seja, deixam a criatividade fluir e vão um pouco mais para direita ou para esquerda que há-de dar sempre certo. E no fim, partilhem sff.


Acrescentei a curcuma nos croquetes porque gosto de aumentar o uso de curcuma na minha alimentação para usufruir dos seus benefícios: antioxidante e anti-inflamatória.


Para quem tem Doença de Chron os feijões podem ser uma área cinzenta. Pessoalmente, tive alguns anos a evitar mais pelo psicológico do medo do que poderiam causar. Ultimamente tento comer uma vez por semana mas demolho sempre por 72 horas, de forma a permitir que o feijão comece o processo de germinação o que facilita o processo intestinal.


Ingredientes

200g de lentilhas cozidas e bem escorridas
150g de legumes cozidos e bem secos (batata, batata doce, cenoura e/ou inhame)
Coentros e tomilho q.b
50g de alho francês
1 cebola média (cerca de 50g)
1 Colher de chá bem cheia de curcuma
1 pitada de pimenta preta
1 pitada de sal
1 dente de alho (opcional)
2 a 3 colheres de farinha de arroz, aveia ou farinha de pão.
Azeite qb
1 tomate

Preparação

Demolhar a lentilha por um período mínimo de 12h e cozer. Cozer os legumes antecipadamente ao vapor ou ferver apenas. A seguir refoga-se a cebola, o azeite, o alho francês e/ou alho. Neste processo, pessoalmente, gosto de usar um wok mas não é essencial. Depois de refogar ligeiramente coloca-se as lentilhas muito bem escorridas, mexendo para que fique o mais seco possível até as lentilhas ficarem separadas. Vá acrescentando os temperos e ervas: o tomilho, a curcuma, os coentros e no fim o tomate. Envolve-se tudo muito bem mais uns dois minutos.


A seguir coloque os legumes cortados no processador e acrescentar a lentilha refogada. Se quiser uma massa com mais textura deixe de lado uma parte das lentilhas inteiras para depois as envolver na mistura triturada.


No processador misturar tudo e colocar um fio de azeite para ajudar. A seguir retira-se para um recipiente e mistura-se com as lentilhas inteiras (caso tenha separado) e a farinha de arroz aos poucos e avaliando a textura da massa. O objetivo não é obter um resultado massudo onde o sabor a farinha predomina. A massa deve ficar bem suave e mole, só tem que ter um pouco de liga e três colheres de sopa de qualquer uma das farinhas que referi são mais que suficientes.


Os croquetes podem ser moldados à mão, mas desde uma vez que tentei a técnica das duas colheres usadas nos pastéis de bacalhau esta passou a ser a minha forma preferida. Ou seja, com duas colheres de sopa vá moldando os croquetes e colocando em formas untadas com azeite e a farinha que usou para as fazer.


No fim basta assar as lentilhas no forno a 180º por 30 minutos ou até estarem dourados.


Nota: Gosto sempre de colocar os croquetes no frio antes de cozinhar porque ajuda-os a ficar mais firmes. Basta colocar por uma hora no frigorífico.


Esta receita é ótima para congelar portanto quando faço dobro a receita e tenho sempre croquetes no congelador e um dia em que o cansaço instala é só retirá-los e colocá-los diretamente no forno.


Como comer: ótimo em lanches ou numa refeição principal. Gosto de acompanhar com uma boa salada, quinoa ou cuscuz e um molhinho pesto de manjericão ou coentros.


Tempo de preparação: 1h30 min

Dificuldade: Média

Porções: cerca de 15 croquetes

Bolo de banana e aveia

Na Cozinha

Provei este bolo pela primeira vez feita pela minha colega Aline Oliveira que é uma cozinheira de mão cheia e fiquei apaixonada. Pedi a receita e já a “ajustei” várias vezes conforme o gosto e o que tenho a mão e sai sempre bem. Esta é uma receita vencedora, já fiz sem fermento e deu certo, já fiz apenas com bicarbonato de sódio e deu certo. É uma receita rápida e prática para um pequeno-almoço ou lanche. Se bater as claras em castelo terá um bolo mais fofinho mas por norma opto por bater apenas com um garfo. Este bolo é ótimo, porque além dos benefícios da aveia não leva nenhum tipo de açúcar refinado, apenas fruta. Meu filho adora, só não gosta das passas por isso coloco poucas para as poder “catar”nas fatias dele.


Para mim a aveia resulta muito bem quer a nível dos intestinos como a nível da saciedade. Nunca tive problemas com o consumo de aveia mas como qualquer pessoa com Doença de Chron sabe, cada um tem que testar por si mas por norma a aveia é um ótimo regulador intestinal.


Ingredientes:
4 bananas
2 ovos
1 chávena de aveia em flocos ou farinha (para os intolerantes ao glúten por favor escolher farinha de aveia sem contaminação de glúten)
Canela q.b.
1 colher de chá de fermento sem glúten ou bicarbonato de sódio com umas gotinhas de limão
Uva passa a gosto
Raspa de limão (opcional)
1 colher de sopa de óleo de coco (opcional)
Pode-se acrescentar: 2 colheres de sopa de farinha de amêndoa, nozes em pedaços, maçã cortada em cubinhos pequeninos… o importante é criar com o que nós gostamos.


Preparação:
Amassar as bananas com um garfo, colocar os ovos (se quiserem podem bater as claras em castelo e juntar no fim mas não é essencial), juntar a aveia (pode ser em flocos mas prefiro sempre triturar e fazer uma farinha grosseira) e ir colocando todos os outros ingredientes e misturar bem. Se for necessário adicione um pouco mais de aveia.
De seguida untar uma forma com óleo de coco e farinha de aveia e coloco no fundo algumas rodelas de banana e encima mais umas rodelas. Levar ao forno pré-aquecido a 180º por cerca de 20 min. E, voilá, já está um bolo cheirosinho e super fácil.

Nota: Dá para acrescentar maçã ou nozes na massa antes de ir ao forno.


Tempo de preparação: 15 min

Dificuldade: Fácil

Porções: 4 pessoas

Continuar a viver em liberdade (7)

Desafios

Já tenho mais de 10 anos a conviver com o Sr. Crohn. Entre altos e baixos cá estamos, o desafio é diário, as dores vão e voltam mas aprendemos a conviver. Aceitar a doença foi vê-la não como uma parte de mim, ou seja, ela não me define como pessoa nem a minha personalidade. É uma doença com o qual tenho que lidar mas não posso deixa-la ter um papel de liderança. Sentei-me novamente no trono da minha vida e reclamei a minha liderança eterna! Que se lixe tudo o resto!


Aprendi a respeitar mais o meu corpo e a perceber os sinais de qualquer anomalia. Mantenho uma alimentação o mais saudável possível, o que não é muito difícil para mim porque já o fazia anteriormente, mas vou respeitando o meu corpo e ajustando conforme as fases. Tirando os fritos que evito ao máximo (mas cometo os meus pecados uma vez ou outra) como quase tudo, dependendo de como está o meu intestino. Tenho feito alguns ajustes na alimentação mas estes vou apresentando ao longo do blogue.


Continuei a desafiar-me e a experimentar coisas novas porque essa é a minha essência, gosto de viver com a liberdade de escolher. Apenas sei que tenho que levar para qualquer lado uma bagagem extra, mas já não me incomoda nem me pesa a alma. Abri o meu peito e voltei a respirar a plenos pulmões.


Não há uma forma ideal de lidar com nenhuma doença que irrompe pela nossa vida sem pedir licença. O sofrimento é inevitável mas a escolha do tipo de vida que pretendemos levar é apenas nossa. Eu votei em mim mesma e na minha força porque acredito que todos nós temos a força interior capaz de dar a volta a situações mais negras desta vida e olhar em frente como se conduzíssemos numa estrada infinita cheia de possibilidades e, continuo a amar e a desfrutar todas as possibilidades que a vida me apresenta.


Amar a mim mesma e a tudo o que me rodeia tem sido uma fonte de energia inesgotável. E quando me sinto cansada, sem energia, perdida, refugio em mim mesma, medito e volto a sentar no trono da minha vida porque só existe um comando neste barco e ele é meu!

A nova adaptação à Cabo Verde (6)

Desafios

Pelo meu bem-estar e pela terapia que faço o ideal seria continuar em Portugal mas a minha vida estava em Cabo Verde para onde tinha regressado havia apenas 2 anos e decidi arriscar mantendo todos os meus tratamentos e seguimento médico em Portugal.


Este sim, foi um grande desafio, sendo que a medicação que faço não existia no país, bem como uma boa parte das terapias e modos de controlo da doença. Um outro problema que existe é o facto de fazer uma terapia que funciona baixando o meu sistema imunitário (a doença de Chron é uma doença autoimune) assim, existem terapias que consistem de certa forma em “enganar” o nosso sistema imunitário e desviá-lo do ataque aos nossos intestinos. Isto cria outros problemas como a maior probabilidade de desenvolver cancro e, principalmente, sujeita quem faz a terapia a estar mais vulnerável a infeções.


Quem vive em Cabo Verde sabe que, o paraíso tropical também nos sujeita ao contacto com infeções, doenças tropicais e algumas viroses sem nome. Sem contar com toda a carga viral que podemos receber de picadas de mosquitos ou os problemas intestinais derivados de alimentação fora de casa, menos cuidada. Na altura ainda tinha outro problema, a Electra! O país atravessava graves problemas com a estabilidade da produção de energia o que nos obrigava a mais de 24h sem luz. Como conservar a minha medicação que tem que estar estabilizada numa temperatura de 2 a 8 graus?

Outro desafio, não menos pertinente, era como fazer chegar a medicação à Cabo Verde. Ao dia de hoje tenho vivido de apoios de amigos e familiares que se deslocam ao hospital, fazem o levantamento da medicação e depois fazem-no chegar até mim. Já perdi noção do número de favores que já tive que pedir e do número de pessoas que já me ajudaram, mas a todos eles sempre o meu mais profundo agradecimento.

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A parede branca (5)

Desafios

Uso esta analogia porque foi assim que me senti, tinha que começar outra história, uma história que contestava… mas porque eu? O que eu fiz para merecer? Pior que as dores eram as limitações que imaginava na minha vida, a alimentação, as viagens, a saúde, a medicação, o bem estar… Enfim, tinha que encaixar tudo isso numa nova forma de existir.

Quem me conhece bem sabe que limitar-me em qualquer ponto do meu ser corresponde a retirar-me um braço. Liberdade para mim é tudo! E tinha que aprender a viver enlaçada a um senhor que até tem um nome bastante intragável Crohn. Pela primeira vez senti que não tinha o controlo nas minhas mãos e entreguei-me na dos médicos e cumpri religiosamente tudo o que me foi proposto. Acho que pela primeira vez na minha vida não contestei nada, limitei-me a obedecer.
Três meses depois os resultados começaram a vir positivos, a melhoria foi visível, recuperei o peso, a minha energia e a vontade de voltar a respirar em plenos pulmões. Permaneci esse tempo em Portugal até estar estável e preparei o meu regresso à Cabo Verde para a festa do final do ano na minha amada ilha de São Vicente.


Tudo era novo, tive que explicar a doença à minha família, aos meus amigos próximos, limitar as minhas experiências gastronómicas e a paródia.

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O diagnóstico em Lisboa (4)

Desafios

Já em Lisboa fui ter com a minha amiga que me obrigou a passar 3 dias em repouso absoluto só a comer e a fazer exames. A primeira diferença que percebi em relação a Cabo Verde é que antes do diagnóstico não foi-me dado nenhuma medicação. Apenas indicação para me manter nutrida e hidratada e recuperar forças. Veio a “santa” colonoscopia, nesta altura sentia-me tão mal que nem foi difícil fazer a preparação, fiz tudo como indicavam as instruções e lá fui fazer. Resultado, possibilidade de doença de Crohn em fase ativa e ulcerações. Pela segunda vez tive que ler o nome deste intruso que teimava em fazer parte da minha vida!


Tive que fazer uma cápsula endoscópica para confirmar a doença de Crohn e avaliar a extensão dos danos que vieram a confirmar serem bastantes. Na altura a médica me informou que iam avançar com uma terapia agressiva comigo porque tinha havido um caso semelhante ao meu há pouco tempo e fizeram uma abordagem mais moderada o que não impediu que a pessoa tivesse que passar por uma cirurgia e retirar parte do intestino inflamado. Conferenciados os médicos foi-me apresentado os corticoides e o humira e doses de ferro por via endovenoso porque já não tinha reservas. Tudo isto porque tinha que começar imediatamente para controlar os danos.


Confesso que ouvir tudo isto foi como receber um murro no estômago. Minha capacidade de absorver palavras novas estava bastante limitada, lembro de ter a sensação de estar perante uma parede branca no qual não sabia que cor pintar. Um vazio enorme apoderou-se de mim, sendo eu uma controladora nata da minha vida, independente, que só queria viajar e experimentar coisas novas, com o peito aberto a todas as novidades mesmo as mais surreais. Para mim não existiam impossíveis, mas até a data só tinha pensado no positivo e em todas as possibilidades maravilhosas que a vida nos apresenta. Entre altos e baixos que todos temos na vida eu, nos meus 30 aninhos, sentia-me imensamente feliz.

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Internamento em Paris (3)

Desafios


A viagem até Paris correu sem grandes sobressaltos porque não comi e bebi só um pouco de café e um pedaço pequeno de chocolate. Tinha imensa dor de cabeça e um grande desconforto abdominal. Chegamos em Paris, já em casa do meu tio jantamos e localizamos os contatos da agência para alterar a viagem no próximo dia. Depois do jantar voltou a acontecer o mesmo cenário de Londres e cheguei a pensar que ia sangrar até morrer porque não concebia de onde poderia sair tanto sangue dos meus intestinos. Assustada pedi ao meu tio para me levar para as urgências porque já não aguentava e tinha medo de me esvair em sangue e morrer com uma hemorragia.


Fomos ao hospital no qual tiraram-me sangue para análises e deixaram-me em observação até chegar os resultados. No meio disso levanto-me e vou ao encontro da minha família e da minha amiga. O corpo estava tão fraco que desmaiei, acordei com uma enfermeira a gritar comigo em francês e eu mal conseguia articular que precisava de uma casa de banho…urgente!!! Quando nos entendemos (até hoje não me lembro como) entrei numa casa de banho onde vomitei e caguei (desculpem a expressão mas foi mesmo isso) tudo o que havia no meu sistema. Lembro-me de ter ido ao chão da casa de banho porque o toque frio do chão despertou-me. Não conseguia gritar, nem pedir ajuda, estava sem forças. Deixei-me ficar no chão até reunir forças para me levantar, agarrar as paredes e caminhar até a cama onde tinha estado anteriormente. Ainda não sei como consegui sair daquele chão, mas lembro-me de ter pensado e ter concluído que tinha tido uma boa vida e que se morresse nesse dia, morreria feliz.


O frio do ar condicionado do hospital ajudou-me a recuperar um pouco a energia perdida se bem que a dor de cabeça era infernal. Mal conseguia pensar. O meu tio veio ter comigo a informar-me que o hospital tinha decidido deixar-me internada em observação, apareceu a agulha e o frasco de soro, apeteceu-me chorar (não me recordo se chorei ou não) mas queria fazer-me de forte para não preocupar as pessoas. Entreguei-me aos cuidados médicos pois nada mais conseguia fazer.


Foram 3 dias de internamento em Paris, sem nenhum diagnóstico porque quando se vive em África as análises são infinitas desde HIV, malárias e todo o género de contaminações. Pelo menos fiquei a saber que não tinha nada de contagioso. Chegou finalmente o dia do regresso a Lisboa e eu queria regressar. Meu tio e meus primos insistiam que ficasse em Paris mas eu queria estar num lugar onde pelo menos conseguisse entender tudo o que me dissessem. Os médicos do hospital de Paris aconselharam-me a não viajar, estava fraca e muito anémica. Nesta altura pesava 44 quilos e nem as minhas roupas serviam bem. Foi uma luta com o hospital, mas lá me deixaram sair depois de ter assinado o termo de responsabilidade e de me terem dado uma panóplia de documentos e exames para levar comigo até a próxima médica.

Ao menos de quase todas as janelas do hospital, inclusive do quarto onde fiquei, havia vista para a Torre Eiffel, portanto, do ponto de vista turístico nem tudo foi perdido.

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As férias negras (2)

Desafios

Passaporte, bilhetes na mão, uma excelente companhia de viagem e três destinos: Lisboa, Paris e Londres. Férias felizes certo? Foi o que eu pensei…

Passagem por Lisboa foi rápida e segui para Paris. O plano era passar 2 a 3 dias em Paris, ir a Londres e voltar para terminar de disfrutar da cidade luz. Até aqui as coisas estavam mais controladas ainda que já vivesse constantemente com diarreia. Chegamos em Londres e a vida estava a correr minimamente, nunca fui de comer fast food, mesmo em viagens, por isso entre uma diarreia e outra ia-me aguentando sem perturbar a minha viagem e a das outras pessoas. Até que houve um jantar num destes restaurantes temáticos dos muitos que existem em Londres. Comemos bem depois de um dia a passear no centro de Londres. Chegamos a casa, todos felizes, banho, organização do plano para o dia seguinte e cama.


No meio da madrugada acordo com uma reviravolta na minha barriga e não conseguia precisar de onde vinha tanta dor e tando desconforto. Depois de um bom tempo na casa de banho reparei que a minha diarreia era de cor sangue e tinha uma dor de cabeça infinita que mal me deixava aguentar em pé. Tremia, meu mundo parecia ter entrado em terramoto e não sabia o que fazer. Quando consegui sair da casa de banho fui beber água, fiz pesquisas e mais pesquisas na internet sobre formas de parar a diarreia e eram chás de camomila, água de arroz, enfim uma panóplia de sugestões que acabei por fazer ao longo da noite sem melhoria nenhuma. Não dormi mas não queria estragar o programa. Assim no dia seguinte seguimos para mais um passeio. Eu comia o mínimo possível e lembro-me de ter bebido café tal era a dor de cabeça e um pedaço de chocolate, ou seja, uma bomba para um intestino irritado.


Obviamente, no meio do passeio tive que usar uma casa de banho pública e a dor era torturante, o sangue abundante e o odor fétido. Tive vergonha de sair do separador da casa de banho até ter a certeza que não estava ninguém por perto. Por esta altura as minhas férias e a dos meus amigos já estavam arruinadas.


Já não me lembro detalhadamente se partimos neste mesmo dia ou no dia seguinte para Paris. O meu plano era chegar à Paris e mudar o bilhete e regressar o mais breve que conseguisse à Lisboa. Já tinha falado como a minha amiga de Lisboa ao telefone e ela estava a minha espera, depois de me “dar nas orelhas” por ter inventado tal aventura quando não estava bem.

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Porque falo da doença de Crohn? (1)

Desafios

Começar esta apresentação é extremamente difícil, sendo jornalista de formação, gosto de escrever sobre os outros e não sobre mim. Este é o meu primeiro desafio com este blog, apresentar a doença de Crohn através da minha história.

Conheci a expressão doença de Crohn há 10 anos, quando através de pesquisas feitas na internet reparei que os sintomas que tinha estavam todos descritos numa estranha expressão que lia pela primeira vez…doença de Crohn. Obviamente, a minha primeira reação foi negar, não é possível! Isto é só um desequilíbrio emocional e daqui a pouco passa.

O meu desequilíbrio emocional começou quando recebi a notícia de um mau diagnóstico, que indicava que meu pai sofria com um cancro intestinal em fase terminal. Além do diagnóstico ele andava com uma aparência muito má. Foi muito difícil vê-lo assim e a minha teimosia não queria aceitar este desígnio. Tratei de tudo e, mesmo contra indicações médicas, coloquei-lhe num avião para Portugal para uma segunda opinião médica. Dias depois o meu pai tinha um diagnóstico completamente diferente que apontava para colite ulcerosa (mais um desconhecido que me foi apresentado) e meses depois já tinha recuperado a aparência e, principalmente, a vida.

Do meu lado o estrago estava feito, o efeito do meu desequilíbrio emocional não passava e desloquei-me a para a ilha de São Vicente para consultas e exames (já que na cidade da Praia não havia na altura a especialidade de gastroenterologia). Mais uma vez um diagnóstico enviesado que apontava para o mesmo diagnóstico do meu pai. Fui medicada, sem melhorias.

Contactei uma amiga em Portugal que também é gastroenterologista para lhe explicar a minha situação e ela calmamente pediu-me para não entrar em stress e que começasse pelo mais básico, uma desparasitação para ver se não havia nenhum parasita a castigar o meu intestino e que fosse ter com ela quando fosse para Portugal.

Confesso que segui a minha vida normal, na altura corria 7 km quase todos os dias o que mantive o mesmo ritmo porque, na não-aceitação do problema, acreditava que o corpo tinha que trabalhar para se recuperar sozinho. E, nesta falta de conhecimento real sobre o que se passava, marquei as minhas férias e fui passear pela europa antes de ir ao médico. A fase de negação é uma fase bastante real e não importa a capacidade intelectual de cada um, ninguém quer ter uma doença associada a sua vida.

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